sexta-feira, setembro 18, 2009

Inimigo Pudico - Melodrama de um quiosque em Sta. Eufémia

Era uma vez um quiosque em Sta. Eufémia que foi instalado como são instalados todos os quiosques em qualquer aldeia, em qualquer cidade ou país, neste planeta que dizem ser azul, para venderem notícias, distribuírem cultura, palavras, ideias, jogos, passatempos, e tudo mais. Era um quiosque quase perfeito nesta terra que deveria ser, para os que cá vivem, para os que cá vivem pelos menos, perfeita. O quiosque nasceu, não chegou a crescer, e fechou, tão perplexamente como nasceu.
E foi uma tristeza para alguns, muito poucos, os que ainda tentaram manter o espaço aberto comprando jornais e encomendando revistas.
Agora, após longos meses reflectindo sobre o melodrama do quiosque em Sta. Eufémia, o inimigo pudico consegue finalmente chegar a algumas conclusões sobre tal desgraça. Questionámos a população, ou uma amostra desta, e após analisar a distribuição das respostas foi fácil chegarmos ao que já de seguida apresentamos.
À pergunta, acabaria o quiosque porque tentou vender recuperadores de calor no deserto, 88% dos indivíduos na amostra questionada respondeu que Não, que não foi esse de todo o caso. Continuámos a tentar descobrir a tendência jogando com perguntas onde o choque de temperaturas era evidente, e então questionámos se acabaria o quiosque por tentar vender gelo no Pólo Norte, ao qual os elementos da amostra responderam de forma coerente, 86,5% que Não, 10,3% que Talvez e os restantes que Sim, foi mesmo isso! Não estávamos a conseguir o que pretendíamos, criar uma pergunta em que a resposta fosse maioritariamente positiva, uma perguntazinha apenas, para termos base, ainda que não muito segura é certo, mas uma base para percebermos o melodrama de um quiosque em Sta. Eufémia, e então prosseguimos de forma mais bruta, tentando chocar os participantes na amostra, os colaboradores deste grande trabalho estatístico, e arriscámos, não seria o quiosque um raro caso onde se tentou vender pérolas a porcos, Ui, disse a maioria composta por 97% dos indivíduos, Não eram pérolas o que o quiosque pretendeu vender, e então, só por isso, respondo que não, não foi essa a razão para o seu fecho repentino, os do Talvez, 2,5%, para além da palavra talvez, foram coincidentes no encolher dos ombros, mais os homens que as mulheres que essas nunca admitem não ter uma opinião para toda as oblíquas questões da vida, os restantes, essa mínima massa humana do sim, disseram que Sim, que acreditavam ser essa a razão muito embora tivessem a perfeita consciência que pelo seu valor já ninguém nos nossos dias vende pérolas. Estávamos a desistir pois não estávamos a conseguir a base de respostas positivas às perguntas do inquérito para podermos induzir alguma tendência. Fizemos então ao contrário, formulámos algumas perguntas na negativa para encontrarmos respostas positivas, e começámos pelo cabaz básico, Não estaria o sucesso do quiosque hipotecado porque ali não vendiam batatas, foi a nossa quarta pergunta ao que a amostra foi 100% concordante, Que sim, que foi mesmo esse o problema, o que a população precisa é de batatas, os jornais apenas servem para se colocarem a servir de forro na dispensa para que o bicho não as coma, arriscaram ainda alguns. Teria o quiosque fechado por ali não se vender vinho nem cerveja, a copo ou ao garrafão, perguntámos logo de seguida para obtermos mais uma resposta 100% concordante, A gente precisa é de molhar o bico que isto de ler jornais traz cá uma seca à garganta.
E assim concluímos, nós, os do inimigo pudico: O quiosque não foi um caso em que se tentou dar pérolas a porcos mas onde se experimentou vender algo que ainda não se compra em Sta. Eufémia.

3 comentários:

Sempre disse...

Um dia apoiarei uma lista à junta de Freguesia. Essa lista terá que ter a sensibilidade de incorporar blogs e espaços informativos como este nas suas ferramentas de trabalho diário.

É incrível como se perdem estas oportunidades de comunicação, de concentração de ideias, estas oportunidades de discussão e esclarecimento.

Uma vez mais, bem haja quem tem a capacidade de manter um espaço tão independente como este.

Anónimo disse...

Embora não sendo natural, nem residente em Santa Eufemia, também eu comprei alguns jornais nesse quiosque de que fala. Mas se me perguntar a minha opinião, ela seria muito diferente. Hoje continuo a comprar jornais e como eu muitos habitantes de Santa Eufemia com quem me encontro no breve momento da compra de um jornal. Mas secalhar muitos como eu, não se sentiram muito bem recebidos pelo estabelicimento em questão e passaram tal como eu a comprar o seu jornal num local onde o "bom dia" e um sorriso são sempre certos.
Nunca considerei a população de Santa Eufemia ignorante, são pessoas iguais a tantas outras e acho de muito mau tom deixarem aqui o mote que venderia mais o "vinho" :S o que é isto ? Por amor de Deus, isso é uma afronta chamar a população de bebados ? Não concordo, acho sim que todos nós gostamos de ser bem recebidos e compramos onde nós sentimos melhor. Um sorriso cativa muitos clientes e isso sim faltou, nada tem a ver com a cultura da freguesia.

Sempre disse...

Não tinha lido ainda este comentário. Este blog está a morrer como morreu o quiosque e como morrerão todas as iniciativas culturais nesta terra.
A cultura e a informação não tem nada a ver com sorrisos. Eu comprei lá jornais e fui muito bem recebido e cheguei mesmo a manter um diálogo digno do nome com os meus interlocutores. Simpatia requer empatia. Empatia é a capacidade de nos conseguirmos no mesmo nível ou estado anímico de quem interage connosco. Se não recebia um bom dia é porque já entrava à espera de o não receber. se entrasse a sorrir iria ver que acabaria por receber o bom dia.
Mas tem alguma dúvida que o vinho ali tem mais saída jornais? Eu não tenho, como o Einstein, nem por um segundo.
Estou completamente de acordo com este texto.